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11 de agosto de 2009
Como te prometi, deixarei escrita a nossa história de amor como uma bela peça de poesia. Há um amor assim uma vez na vida e é perda de tempo querer transformá-lo apenas numa recordação bonitinha, ternurenta, sossegada, ou depositá-lo numa caixa como se fosse um objecto que já estimámos muito, mas que agora não nos faz falta para coisa nenhuma. Por mais hermética que seja essa caixa, o amor, o cheiro perfumado desse amor, conseguirá sempre escapar-se, e nesse momento estarás de volta, tão fresco e forte como no primeiro dia em que me puxaste pela cintura, me beijaste o pescoço e depois a boca. Deixei-me apanhar pelos teus olhos magnéticos, pelas tuas mãos que sentia húmidas a descobrir-me o corpo. Para muitos, para a maioria, para uma percentagem significativa de pessoas, isto soará a exagero, a puro fatalismo. Mas eu conheço o meu coração melhor do que ninguém e confio no que ele me diz. E, verdade seja dita, também estou cansada das lições duras da minha razão, incapaz de apiedar-se de mim. Não quero afastar-me de ti. Mesmo que não possa ter-te volta, e sei que não posso, quero ficar perto de ti. E não pode haver mal nenhum nisso.
28 de julho de 2009
Minha querida Cindy,
É verdade que tens levado este ar partilhado para a frente com a tua força e que não tenho contribuído muito nos últimos tempos. Mas prometo voltar rapidamente ao exercício da escrita, falta só um bocadinho assim para aterrar na minha doce rotina, depois de uma viagem que me pareceu pelo mundo mas que nunca saiu dos recortes do nosso Portugal.
É verdade que tens levado este ar partilhado para a frente com a tua força e que não tenho contribuído muito nos últimos tempos. Mas prometo voltar rapidamente ao exercício da escrita, falta só um bocadinho assim para aterrar na minha doce rotina, depois de uma viagem que me pareceu pelo mundo mas que nunca saiu dos recortes do nosso Portugal.
10 de julho de 2009
Abro esta prosa com uma corrente de ar que empurra a porta para trás. Da posição em que estou, e que é muito própria de um rei, vejo um grande campo cultivado. Para dizer a verdade não consigo distinguir se é milho, couve ou feijão verde. É verde, um verde-minho ostensivo, como alguém me disse há uns anos atrás numa viagem de carro. Vou vivendo para deixar de viver, se me faço entender. Para mal dos meus pecados, e devem ser alguns, não há orgão neste corpo que se revolte contra mim. Cumpro as vontades do coração, dos pulmões, da bexiga, do intestino, porque na realidade nem força tenho para os contrariar. Deus sabe a minha hora. Ouço isto todos os dias pela boca das minhas filhas. Mas eu sinto que estou atrasado no meu compromisso. O último, talvez o mais importante, o eterno e terno momento em que terei paz. E essa paz é a alma deixada pelo meu corpo. Ficarei guardado num invólucro para sempre. Julgo, e não sei de onde me vem esta ideia, que a alma é coisa pequenina, condensada, que cabe numa mão fechada. Levanto o dedo indicador no ar e faço um risco e depois outro, e procuro encontrar o traço certo de uma caricatura. Uma entre dezenas que ficaram em pedaços de papel de uma mesa, um guardanapo, um bloco de notas. E assusto-me com a firmeza da minha mão. Não é justo, é o que posso dizer.
Mais velho do que eu nesta terra só o Joaquim Preto que mora duas ruas abaixo, e leva dez anos de avanço. Já me parecia velho quando eu ainda me achava novo e agora que eu sou velho ele deve ser muito velho. Já não o vejo há muito tempo. Esperamos sentados, vestidos, penteados, engomados, a recolha da morte.
Mais velho do que eu nesta terra só o Joaquim Preto que mora duas ruas abaixo, e leva dez anos de avanço. Já me parecia velho quando eu ainda me achava novo e agora que eu sou velho ele deve ser muito velho. Já não o vejo há muito tempo. Esperamos sentados, vestidos, penteados, engomados, a recolha da morte.
29 de junho de 2009
28 de junho de 2009
Nunca percebi as pessoas que dizem sentirem-se vazias ou em pânico perante um papel em branco!? E que tal pegarem no dito papel em branco quando tiverem alguma coisa de jeito para escrever? E se o problema é o papel estar em branco, podem fazer umas estrelinhas ou umas luas nos cantos. Quando estiver mais bem disposta deixo ficar mais umas dicas. Mas durmam descansadas que a esta hora há milhões de pessoas que estão a preencher papéis em branco, está bem?
Sinto-me como se tivesse chegado de uma grande viagem. Uma volta ao mundo em muitos dias, não sei precisar quantos. Voltei. Doem-me as plantas dos pés a cada passo que dou, no caminho que faço até à porta de casa. Será mesmo a minha casa? O chão de madeira, as paredes brancas, cobertas de retratos, as reproduções trazidas das lojas dos museus, os livros, os filmes, os cds, o candeeiro de pé de ferro comprado numa estação de metro. Juro que não queria voltar. Sinto a dor nos pés novamente. Gastei a força, o dinheiro, gastei também a memória deste espaço onde tantas vezes te beijei. Arrecado esses beijos entre os meus lábios. Abracei-te tantas vezes. Dia após dia regressavas mais precisado desses abraços. Quero estender-me na cama, puxar o lençol azul, com folhas brancas, para cima do meu corpo, até ao começo do pescoço. Quero ficar de lado, virada para a janela do quarto. A luz forte do sol que me faz chorar os olhos, como uma cebola brava. Um pedaço de céu azul, outro branco, outro cinzento. Juro que não queria voltar.
Alice in Wonderland
Sim, é verdade, ainda não estou preparada para perceber essa tua forma de amar. Mas ontem, na minha leitura d' O segredo de Leonardo Volpi, de Fernando Pinto do Amaral, achei que podias ser o Leonardo Volpi nesta passagem do livro:
"Não acredito na monogamia, mas também nunca fui o libertino que por aí dizem. Se vivesse num harém, rodeado por belas mulheres ou por rapazes na flor da idade, aborrecia-me de morte (...) O que se passa é que cada amor é diferente de outro e, ao fim de todo este tempo, percebi que me é possível amar duas ou três pessoas em simultâneo. Podem chamar-me um monstro, se quiserem, mas é mesmo assim. O que dedicamos a uma não diminui o que sentimos pelas outras, antes pelo contrário."
"Não acredito na monogamia, mas também nunca fui o libertino que por aí dizem. Se vivesse num harém, rodeado por belas mulheres ou por rapazes na flor da idade, aborrecia-me de morte (...) O que se passa é que cada amor é diferente de outro e, ao fim de todo este tempo, percebi que me é possível amar duas ou três pessoas em simultâneo. Podem chamar-me um monstro, se quiserem, mas é mesmo assim. O que dedicamos a uma não diminui o que sentimos pelas outras, antes pelo contrário."
27 de junho de 2009
Hoje, deu-me para a nostalgia e passei grande parte da tarde a reler textos que escrevi há uns anos atrás. E enquanto os lia não pude deixar de recordar um começo acertado, belíssimo, perfeito, de Agustina Bessa-Luís, no seu livro "Jóia de Família" (da trilogia "Princípio da Incerteza") e com o qual não poderia estar mais de acordo.
"Não se escreve melhor porque se escreveu muito. Às vezes, vou surpreender nas páginas antigas assinadas pelo meu punho um tom perfeito em que a imaginação ronda como uma madrinha incapaz de envelhecer e de perder a razão. A razão é a mesma, a coberto das longas provações das decepções, da experiência, de tudo".
"Não se escreve melhor porque se escreveu muito. Às vezes, vou surpreender nas páginas antigas assinadas pelo meu punho um tom perfeito em que a imaginação ronda como uma madrinha incapaz de envelhecer e de perder a razão. A razão é a mesma, a coberto das longas provações das decepções, da experiência, de tudo".
21 de junho de 2009
Eternidade
Será a tua cama
a minha cama
aquela onde revolvo
um sono acidentado?
Onde dormes de lado
ou vigias
o modo alheio que a madrugada
abre
Será tua a proposta
deste encontro
ou será meu este amor
que arde?
Uma flor de fogo
que incendeia
a nossa cama antes do fim
da tarde
Se é tua a dúvida
e minha esta certeza
daquilo que despimos
e na cama tarda?
O vestido descendo pelas ancas
sendo
da sede o que segura
e na seda aguarda
Será tua a vitória
e minha esta derrota
de não poder segurar-te
a vida inteira?
Por mais que queira
a eternidade aguarda
o tempo que por ela
já se esgueira
(Maria Teresa Horta)
a minha cama
aquela onde revolvo
um sono acidentado?
Onde dormes de lado
ou vigias
o modo alheio que a madrugada
abre
Será tua a proposta
deste encontro
ou será meu este amor
que arde?
Uma flor de fogo
que incendeia
a nossa cama antes do fim
da tarde
Se é tua a dúvida
e minha esta certeza
daquilo que despimos
e na cama tarda?
O vestido descendo pelas ancas
sendo
da sede o que segura
e na seda aguarda
Será tua a vitória
e minha esta derrota
de não poder segurar-te
a vida inteira?
Por mais que queira
a eternidade aguarda
o tempo que por ela
já se esgueira
(Maria Teresa Horta)
Regressar a Alcácer do Sal. Voltar às delícias da salada de ovas, do polvo cozido, do pão, da cebola, do travo a vinagre. E ainda as amêijoas que nos chegam à mesa dentro de um barco, mergulhadas num tempero que não se pode descrever (isto não é um anúncio do Pingo Doce). Depois o derradeiro passeio, junto ao rio, com moscas, melgas e mosquitos a levar-nos o açúcar do sangue. Começa a noite. Chega a fresca de um vento manso e chegam também cadeiras e senhoras de provecta idade às varandas. Voltaremos enquanto o Verão durar.
19 de junho de 2009
Chega de lamúrias, chega de choros e de chorinhos (ainda que aprecie muito este género musical). Chega, ouço eu na voz de Mart'nália. Chega de gastar energia na dor, na teoria da dor, nas coisas que inventamos para esquecer a dor. Só gosto (é forma de dizer) da dor do fado, porque me chega cantada e diluída nos versos, quebrada pela guitarra, como vodka que enfraquecemos com sumo de limão. Dor de outra pessoa parece sempre menos dor, porque a nossa dor é a dor. Mas eu não quero fazer parte deste processo, nunca quis. Resisto, expulso, cuspo para longe, como se fosse veneno de serpente sugado de um braço. Dizem que faço mal, que o luto é para se fazer. Mas eu não quero fazê-lo, não me apetece, acho perda de tempo, ainda que ande muitas vezes de preto. Cuspo para longe, a dor.
14 de junho de 2009
Suzanne Vega Gold
Há felicidades que se trazem para casa por 2,89€. Do melhor, meus amigos, do melhor.
13 de junho de 2009
Mesmo que não acredites, recordo a todo o instante aquele gesto de agarrar a tua mão, caminhar a teu lado, poucos passos, um minuto, menos de um minuto de uma tarde preciosa. Lembro-me do céu, o barulho infernal da estrada, ali tão perto, lembro-me das roupas que trazíamos, lembro-me do teu perfil, lembro-me das portas do carro a fecharem-se pesadamente. Ligar o carro, acelerar em seco, puxar o cinto, soltá-lo como se fosse um elástico, soltar a voz de Caetano presa há dias na mesma música (Terra! Terra!), cantar contigo, olhar o relógio, o céu do tamanho de um vidro de um carro, procurar o Sol, lembrar-me que era Abril, sem águas mil.
5 de junho de 2009
Quando é que vais perceber que já não preciso de ti para continuar a minha jornada? Quando é que vais perceber que o luto está em curso e as carpideiras, contratadas há vários dias, não poupam nas lágrimas para lavar a minha dor, como mármore que se lava com lixívia? Já comecei a transformar-te numa forma de luz, num beijo de rosto, num abraço apertado, numa saudade, que ainda é verde. Já estou ali, mais à frente, onde já não me alcanças com o esticar de um braço. Cresci mais um pouco, aprendi mais um pouco. E já não te quero de volta.
29 de maio de 2009
Só tive tempo de deixar-te um beijo perigosamente perto da tua boca, e deixar-te a mão em cima do peito. Estivemos sempre de mão dada, tentando ser amigos, fugindo de ser amantes, contando coisas da vida no pouco tempo que tínhamos. E foi muito pouco, ou talvez ele tenha passado demasiado depressa. É o que sentimos quando estamos bem, quando estamos a fazer o bem. “E continuo a gostar muito de ti”, foi a última coisa que disseste antes de eu sair do teu quarto. Já tinhas os olhos rasos de água. Saí depressa para não voltar atrás e beijar-te definitivamente na boca.
25 de maio de 2009
Fiquei muito contente por saber notícias do Handsome, do blogue "Efeito Fotoeléctrico". Não sabia nada dele há mais de dois anos. E com ele chegaram-me lembranças (nem eu sabia que já tinha passado tempo suficiente para haver lembranças) de uma blogosfera saudável, despretensiosa, onde se vivia uma virtualidade cheia de sentimento. Entrávamos num blog como se entrássemos num café. Um puxar de cadeira, um cigarro na mão e a conversa corria. Às vezes até podíamos jurar que ouvíamos música, um registo quente, envolvente, que nos fazia ficar só mais um bocadinho. Tenho saudades desse tempo e dos blogues desse tempo, que lia e comentava com prazer. Voltava sempre, apetecia-me voltar sempre.
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